quinta-feira, 3 de abril de 2008

Administração Pública

Noticiou-se esses dias uma medida enérgica para diminuir o caos do trânsito de São Paulo. Uma medida corajosa e de pulso. E totalmente furada.
Foi decidido que para diminuir o caos, será PROIBIDA a circulação de caminhões (a princípio, qualquer tipo), pelo centro expandido de São Paulo e marginais, sendo restrita sua circulação das 21:00 às 5:00 am. É. Esse horário mesmo. Quais as conseqüências imediatas disso? Para o comércio, são praticamente óbvias: O horário de trabalho dos estabelecimentos comerciais terá que sofrer alterações, com a inclusão de, ou turnos extras, ou horas extras dos mesmos funcionários. Como conseqüência imediata, teremos um aumento dos custos por parte do comerciante. Obviamente (e corretamente), serão repassados aos consumidores finais. E lá vai o custo de vida....
Analisemos mais. Atualmente, os caminhões circulam praticamente 24 horas pela cidade. Terão seus horários de trabalho reduzido para 8 horas. Deverão acelerar mais todos seus procedimentos de carga e descarga. Como trabalho com isso, sei a dinâmica deles. Ou carregam e vão logo para as ruas e estradas, seguindo seu caminho, ou vão para um lugar de pernoite (quando tal é possível), sendo tal lugar ALGUMAS vezes, o pátio das empresas onde fizeram o frete. E como fica agora? Acredito que os caminhões estacionarão próximos os locais de carga e descarga, e ficarão ali fazendo hora, até o momento em que possam circular, tanto para carga quanto descarga. A lei é clara. Proíbe a circulação, mas não a presença; O cenário que se forma, é interessante. Ao invés de termos caminhões circulando, teremos as calçadas tomadas de assalto por dezenas de caminhões, à espera. E conseqüência direta, um maior atravancamento das ruas, já que os carros de passeio NÃO TERÃO ONDE ESTACIONAR!

E vamos um pouco mais alêm. Falemos do cidadão comum. Sem comércio. Não caminhoneiro. Tirando a parte de estacionamento, nada o afeta essa lei, correto? Errado. Vamos lá?

Entrega de gás. Que horas?
Compra de móveis? Que horas entrega? Melhor ainda: e se o nosso cidadão morar em um edifício. Como conciliar os horários com o regulamento interno e os vizinhos?
Mudanças!! Que maravilha!!

Novamente, o que vemos são as administrações escolhidas democraticamente (ou seja, a culpa é nossa), fazendo seus deveres de casa. Tem que se resolver a desordem do trânsito? Sim, Como? Fácil, o governo não faz nada, coloca a população pra fazer por ele, e ainda irá pagar a conta. Ah, sim. Com o aumento dos custos (devido às horas extras), obviamente irá aumentar a arrecadação de ICMS. Magnífico. Algo parecido com a indústria de buracos. De que valem ruas bem pavimentadas? Mais úteis ruas esburacadas, que aceleram o desgaste de molas, amortecedores, pneus, rodas e do carro no geral...mais ICMS.
Teoria conspiratória?Acordem.

Cá estou eu apontando defeitos. Tenho soluções? Sim, e sem cair no lugar comum do metrô, que é uma bandeira que carrego.

O problema é a quantidade de carros? Não. É a vazão. Mecânica de fluídos. Ou diminui-se o volume, ou se aumenta o meio de circulação. Não dá pra diminuir o número de carros. Alargar ruas? Virtualmente é possível, e foi feito. Av. Sumaré, Pinheiros. Lá, foi colocada uma faixa extra, de cerca de 1 metro de largura, apenas para circulação de motos, sem a diminuição do canteiro central, mas estreitando as outras pistas de rodagem. O que mostra que as nossas faixas ainda estão dimensionadas para os carros dos anos 50. Vejo muitas vezes nos cruzamentos, carros parados nas faixas de tal maneira, que ocupam o dobro do espaço necessário. Se junto aos semáforos fosse feito um redimensionamento das marcas, de maneira que permitisse a parada de mais carros NA LARGURA, o comprimento das filas iria diminuir consideravelmente. Ao invés de termos duas filas com 9 carros cada, teríamos 3 filas com 6 carros cada. Diminui-se o comprimento. Diminui-se a sensação de engarrafamento (que aumenta o stress, a violência no trânsito e outras mazelas), e evita-se que se feche o cruzamento.

Outra solução para aumentar o fluxo? PROIBIR ESTACIONAR NAS RUAS, exceto carga e descarga. Tá, e aí pergunta o mesmo cidadão supra-citado, e eu paro aonde? Estacionamentos. E pago aquela fortuna? Não.

A construção de um edifício-garagem é muito simples e barata, já que é uma obra crua, sem requintes ou acabamentos. Um bom edifício garagem pela prefeitura, em bairros como a Lapa, mesmo cobrando R$ 1,99, teria um fluxo de caixa brutal, devido à natureza do bairro (alto comércio). Sem contar que, as chances de seu carro ser roubado de um edifício-garagem, são bem menores do que de ser roubado na rua (não nos esqueçamos que pagamos Zona Azul e IPVA, mas se o carro for roubado, azar o seu).

Segurança no estacionamento. Maior fluxo de trânsito (imaginem a Oscar Freire, sem carros parados dos 2 lados). Maior arrecadação da prefeitura.

Sou um gênio em administração pública? Não, evidente. Mas, só vejo 2 hipóteses nessa situação na paulicéia. Ou excesso de ingenuidade e falta de conhecimento dos mecanismos que serão afetados(comércio e população em geral), ou realmente é intencional, buscando apenas aumentar arrecadações tributárias.

Gotas de Sabedoria

1 garrafa de água pequena, custa por volta de 1 real, e possui volume médio de 500 ml. O mesmo 1 real, se transformado em conta d´água encanada ( Sabesp e similares ), permite encher a dita garrafa, 4 vezes por dia, durante um ano.

Repetindo: O custo para 500 ml em uma garrafa, pode ser transformado reabastecendo a dita, em 730 litros ao longo do ano.
Não apenas uma questão economia doméstica. Uma questão ambiental (plástico das garrafas). Ou vão querer me convencer que não bebem água da torneira (filtrada, que seja)?